sábado, 27 de abril de 2013

Dose de correspondência


Correio eletrônico

O tempo das cartas já passou
infelizmente, só recebemos contas em envelopes
"meu caro amigo me perdoe, por favor"
não posso lhe fazer visitas
a vida segue à risca
todos os preceitos do amor
obrigações, cobranças, companheirismo, suspiros e balas de goma
não posso faltar com isso

sei também, o desgosto aportou em seu coração
mas esse azedume vai embora
como tantas outras dores
passou
passou
passamos pela vida embarcando e desembarcando
em bahias e fortes, ladeiras e recifes
e tudo é poesia

verso bom mesmo
é aquele que dói
eu já não sei mais fazer versos
a coisa aqui está até serena
desde que um anjo chegou e alegra as nossas manhãs
não sei mais fazer poema

em algum tempo voltará no tempo
receberei uma carta
à moda antiga
dirá: candy so sweet
falará: sobre Carla, Patrícia ou Valéria
de forma entusiasmada e contará sobre Lara, a menina dos seus olhos
ou se nada funcionar, sobre sua fuga para o México.

eu responderei feliz
contarei alguma história desse cotidiano ordinário, eu gosto
sobre minha mudança de emprego
certamente não serei mais professora
contarei sobre Lorenzo, Inácio ou Clarice
ou sobre nenhum
talvez não tenha filhos
e relate que o trabalho me consumiu.

Não sei, só sei que a vida segue
e sempre temos fatos, causos, contos e histórias para contar
algumas tristes, alguém faleceu. Alguém fez a gente morrer ligeiramente. O dinheiro é pouco.
Não sei, só sei sobre as palavras e elas encurtam distâncias e eternizam amizades.

Abraço,

Aguardo notícias.