quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

dose de águas










Tanto mar

procurando solo
semente
raiz

encontro tanto mar
a guitarra arranha
sem ser ouvida

escuto o seu não dedilhar
sinto o seu ritmo
nos goles escuros da noite

há o medo
sempre há
mas o blues muda de cor

e o vale de têmporas nos espera
para a canção que não finda

as ondas moldam a arrebentação 
o olfato emoldura o pescoço
e o dia penetra o céu

(Juliana Trentini)

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

dose de constatação


"Depois da chuva, o arco-íris
Depois do vento, a flor
Depois do cimento, a cor
Depois da tinta, a arte
Se não entendeu faz parte"

(autor desconhecido)

sábado, 11 de dezembro de 2010

Dose de manhã









Será que é tão difícil amanhecer?

A manhã presta-se a invadir minha noite
antes mesmo de romper-se em sua naturalidade
três horas e perambulo o silêncio
preâmbulos das ociosidades e dos compromissos
oscilando entre cumprimentos e faltas

escuto os sonhos dos meus vizinhos
não durmo
o sol me arde com os medos alheios
na janela ainda é noite
no chão o tempo é disforme
Cronos vira espaço

a cama vazia me convida
a declamar poesia
o travesseiro me denuncia
já é dia já é dia


(Juliana Trentini)

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Dose perdida









"É difícil perder-se. É tão difícl que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que achar-me seja de novo a mentira de que vivo." Clarice Lispector



os dias lentos
tardo
perdido entre carros e asfaltos
a cidade corre
em mim morre: crenças e medos
caço poemas nos muros
encontro um sorriso perdido
revejo o círculo
renovando-se a cada passo
passo
passareando sob ordens matinais
obrigando o dia a se fazer poesia


(Juliana Trentini)

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Dose de partida parte II

"Rejeição.
vendo-me então substituida plenamente
virei planta de pouco viço.
Tão dura para o amor, sem gritos, sem soluços, sem risos."

Anchella Monte



Fui sem ir. O Adeus forçado era o desejo de dizer: “Fique por perto!" Porém, por razões que não queremos entender, entendemos que o não é sempre mais fácil que o sim. O sim nos oferece o conforto da possibilidade de fazer dar certo, no entanto somos colocados para trilhar um jogo em que desconhecemos as regras e acabamos optando pelo não, pois esse descarta as possibilidades e te faz saber precisamente que aquela porta foi fechada.


Juliana trentini

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Dose de partida

 

 

 

 

 

 

Seis

**

Foi, e nem entendi. Só senti, e senti muito. Ficou faltando, vai sempre faltar. O telefone foi menos alegre, faltou uma canção. Mas, houve amor, há amigos, há sorrisos sem disfarces, mesmo que a dor não cesse. Abranda o corte cego e fundo dos dias. Não sara, não cessa, mas ameniza. Caramelos, em meio ao sal, tin-tins ao invés de soluços. Até que o outro dia venha, nesse castelo de areia e uivos de vento.  

(By Polly)

Do blog Polifonia.